Sexta, mais uma. A última desta semana, pudera. Fiquemos pois a experimentar um fim-de-semana que nos promete ser quente e limpo. Assim seja e que a música esteja connosco, como está. Da melhor, como sempre foi. Ouçam, como dizia o nosso cançonetista da ocasião. Até depois.
Sr. Jorge Nuno Pinto da Costa, Confesso que até ser mãe sabia apenas vagamente o que era o Futebol Clube do Porto; era o Clube dos meus pais, do meu irmão mais novo e depois do meu namorado e marido. Ouvia-os gritar e sonhar por vitórias enquanto me mandavam ir dar uma volta e estar calada.
Fui mãe muito cedo e os meus filhos nasceram e cresceram com o” FCP DO PINTO DA COSTA”. Foi com eles (e com o senhor como Presidente) que aprendi a ver futebol e a ser Portista. Comecei como “atenta ouvinte de programas de futebol”, depois aprendi regras, fizeram-me desenhos e explicaram-me vezes sem conta o que era um fora de jogo… fizemos cadernetas, decorei o nome e número dos jogadores, acompanhei as novas aquisições.
Vi os meus filhos irem para a escola primária orgulhosamente vestidos com o equipamento do Porto, chuteiras de plástico nos pés pela rua fora. Vi-os voltarem contentes, joelhos esfolados, com cromos de futebol ganhos no concurso da tabuada… Fiz bolos de anos com relvados, balizas e bonequinhos.
Vi-os partir para Erasmus com os cachecóis, e mais uma vez com os equipamentos do FCP, tudo bem espalmado nas mochilas, “pode ser que dê para umas futeboladas”.
Já com idade para ter juízo fui com eles ao estádio do Porto e com eles gritei e saltei como se fosse da mesma idade.
Por tudo isso muito obrigada, por nos ter dado, a mim e ao meu marido, o enorme prazer de ver os nossos filhos contentes aos saltos pela casa fora, de lhes ouvirmos as gargalhadas, de partilharmos com eles emoções e alegrias simples da vida, e de lhes ter permitido acreditar que é bom e possível ganhar, mesmo abanando os poderes instalados.
Obrigada pelos serões em família, avós, pais, netos, tios, primos amontoados nos sofás e espalhados pelo chão, agarrados aos cachecóis, olhos fechados e aos gritos pelo Baía!
Obrigada pela humanidade destes momentos, por estas pequenas coisas, que nos compensam de tantas outras que correm menos bem, e que farão sempre parte das nossas memórias. Por tudo isto estamos todos consigo neste momento!
Semana ventosa, estava prometida, selvagem como é devida à vida e aos prazeres que se ouvem. Mais de 40 anos separam os diversos ventos que a mudança registou, mas, não se espante, tonto, o inocente, pois a cada voz se reconhecerá a diferença sem desqualificar. É assim o mundo, feito da excelência diversa.
Entre os selvagens ilustrados, ocupa o seu lugar com os ilustres, este camaleão [como o dizem] que faz o que lhe compete com competência: sabe escolher o vento de feição.
Hoje, porque o primeiro dia da semana também é mês novo, domingo de ensolaramentos variados, as memórias vão esvoaçando sem dor.
Requisita-se ao boletim o prenúncio do tempo que se deseja: dos ventos semeados colher-se-ão os sons, diversos, unidos, unos, selvagens, cultivados, cultos. Mistura rica feita da etéreo material bruto, esse movimento que quando respirado é apenas invisível, vital. A semana se ouvirá.
palavras para quê, uma cidade, uma banda e uma música de excelência, servem [à medida] o imaginário que os dias pedem. [também disponível no mp3 ... que a memória quer-se fresca]. Entre Abril e Maio o tempo desdobra-se: é a multiplicação dos seres, que a força do calor tem muita força, e depois nota-se. Que é como quem diz: o futuro bate à porta da memória.
Caso se tratasse, de facto, d'o fim do mundo, o estilo não teria sido o mais apropriado. Agora, como então, simpatizo com uma música que faz parte de uma adolescência em que ofim do mundo nunca está presente, ainda que possa ser cantado ... Como o estudo comparativo qua aqui deixo mostra, dois anos é uma eternidade: atentem às diferenças e sorriam, que é o melhor que a memória nos reserva.
é o que ocorre entre uma sexta revolucionária e o dominical descanso.
Vai Abril irregular, ou o que seja, entre o sol e as chuvas mil que o ditado afirma e o arremedo de verão que as primaveras sempre prometem. E não vai mal por estes dias em que o calor dilata os corpos. Afinal é o tempo certo para acertar o calendário com a memória, e o corpo com a escrita dos dias. Colhida a caída folha da árvore espalma-se entre as páginas de um livro, marca o escrito e o que se lhe segue, sonhado.
Millie Small | Interview 1964 [My Boy Lollipop...]
Para que não sobrem críticas acerca da possível futilidade, tentada e consumada, da temática abordada nas entradas dos últimos dois dias, aqui deixo a ressaca de uma aparição cantante da nossa emilita. Eis o mundo intelectual que, à data, preenchia os nossos serões televisivos e, a avaliar pela prova, os dos finlandeses. Tão longe e tão próximos, diriam as vozes.
aberto o debate à questão dos costumes, e momentaneamente alheios à problemática dos dedos de ruth marlene e micaela: quando eu te queria tu rias de mim nem reparavas que eu tava crescendo quando eu te queria tu rias de mim nem reparavas que eu tava crescendo
agora queres mas eu digo assim chupa chupa chupa chupa no dedo
a história continua, até à consumação final:
agora queres mas sou eu quem manda chupa chupa chupa chupa no dedo chupa no dedo chupa no dedo chupa no dedo
deixamos aqui mais um raro momento da pequena emilita.
a pequena, e o seu modo franco de chamar ao seu rapaz, o meu "namorado" chupa-chupa, ou pirolito ... merece, num país cultor da atitude crítica e dos seminaríssimos eventos, a atenção profunda dos mais iluminados. Explico o ponto de vista: a pequena Millie foi, nos recuados anos 60 desse Portugal que ainda nos come o dia-a-dia, a vedeta única dos inter-lúdicos musicais televisivos [os hoje vulgares video-clips]. A cada volta lá nos vinha ela, sempre ela, insinuar-se com esse seu namorado na ponta da língua. Feita a mossa no adolescente luso, a quem os costumes brandos nada mais ditavam que a mão-na-mão, um beijo roubado na penumbra do cinema e a elevação de uma serenata em noite de Verão, poder-se-á, hoje, atribuir a dissolução que viria, a essa pérfida insistência? Quem, nos escaninhos das ondas hertzianas perseguia a obra? Um regime obtuso ou aqueles que dentro dele se deleitavam na sua oposição? Estaremos nós, hoje, ao ouvir os nossos maiores êxitos académicos, a seguir essa tradição letrista e musical? Enfim, panos para mangas, numa temática rica como a letra da pequena que já então nos anunciava:
My boy lollipop, you made my heart go giddy up. You are as sweet as candy, you’re my sugar dandy. Ha, Ho my boy lollipop, Never ever leave me, Because it would grieve me, My heart told me so, I love Ya, I love Ya, I love Ya so, That I want Ya to Know, I need Ya, I need Ya, I need Ya so, And I'll never let You go, My boy lollipop, you made my heart go giddy up. You set my world on fire, you are my one desire, My boy lollipop, my boy lollipop.
... os 60's, em toda a sua candura, colocando já toda uma problemática. Desafiando a imaginação dos que na música se apaixonam pela letra [tradução precisa-se!] esta antecipava o que o século 21, hoje, vê como um problema do futuro, próximo: a inutilidade do macho, a que o Y deu forma, e a necessidade de o encarar como em vias de extinção. Lentamente as primeiras ligas para a sua protecção emergem. Profético.
o cinema, italiano no caso, como arquitectura. 1977, Ettore Scola, Sophia Loren, Marcello Mastroianni. Escrito por Maurizio Costanzo e Ruggero Maccari.
fascismo, homossexualidade, pessoas normais, no dia em que mussolini e hitler se encontravam pela primeira vez, 1930, Roma.
é o título do capítulo segundo de As Origens da Arquitectura. Na página 41, figura 23, encontra-se esta "secção [?] de uma cabana", gravação rupestre do primeiro milénio a.C. [Valcamonica, Itália]. O original Le Origini dell' Architettura é obra a quatro mãos, de Leonardo Benevolo e Benno Albretch, datada de 2002. A versão em língua portuguesa, de 2004, é das Edições 70.
Aprecio sobretudo a referência expressa n'a fixação e a tomada de posse do território. Ficam assim claras as origens da arquitectura, sejam quais sejam os capítulos que se lhe sigam, as histórias que se contem, as teorias que circulem, as fantasias que entusiasmem.
+ Julio Cortázar + Michelangelo Antonioni + Jeff Beck + Jimmy Page [and the Yardbirds: Stroll On] + a não esquecer: Herbie Hancock, Vanessa Redgrave, David Hemings, Sarah Miles, John Castle, Jane Birkin, Gillian Hills, Peter Bowles, Veruschka, Carlo Ponti, etc. etc.
[nota: o bis foi acrescentado. Está bem, recomenda-se. A história cumpre-se em mais um capítulo: desdobrou-se Francisco, o primeiro, na quarta geração a partir dum fundador intermediário, O que hoje se festeja.]