Saturday, May 19, 2007
vista daqui
Vista daqui a capital [Lisboa] é o teatro de todos. Acontece que descartado o dom da ubiquidade fica o que nos dão [salvo seja! e a cores] os filtros da mediatização. Assim da carne e osso da arena sobram apenas os desejos que o poder alimenta e difunde [seja este quem quer que seja]. Construída assim a imagem da capital do desejado império ficamos mais próximos desse vórtice umbilical que consome o imaginário de muitos e muitos dos que nele se foram imaginando.
Vem esta crónica a propósito das muletas do poder e dos olhos que as não querem ver.
Tudo o que se vem discutindo está na ordem do ‘arquitectonicamente’ possível e politicamente correcto.
Ficam assim entrelaçados o desejado, o possível e o correcto. Nos bastidores [que no teatro do povo são o que mais interessa e na difusão o que menos se revela] os políticos e os arquitectos.
Na memória de todos permanecem ainda hoje as avisadas conjecturas de Gonçalo Ribeiro Teles, um arquitecto que faz da sua diferença a diferença que colhe o respeito de muitos outros arquitectos. Ou, de má memória, os descalabros que a exposição da vida [mais que privada?] pode trazer aos arquitectos, ainda que a reputação já os referenciasse.
Poderes de sempre, e também os mais recentes, invocaram os arquitectos [alguns em vão, pecaminosamente…]: Abecassis, Siza para reconstruir, 'diversos da constelação' para a Expo, e depois Gehry p’ra roleta. E um pequeno rol de cuidadas hierarquias, esboçadas, consentidas, nomeadas, contidas, alimentadas, promovidas, necessárias.
O melhor da direita não ortodoxa, alternativa [Maria José Noqueira Pinto] percebeu e agarrou no 'descarrilhado' que sobrava ao pavão para sedimentar as ideias e os olhares sobre a cidade [e provavelmente erguer a inveja do engenheiro e acelerar a construção do muro e a derrocada que se lhe seguiu, ainda bem para bem de todos].
Chegamos então ao tempo presente.
De referência em auto-referência a arquitecta indica a politica [ela mesma] para candidata e salta, antes mesmo que tenha sido dado o tiro de partida [diz a carta que se escapou para o mundo] e quem pode [e manda] não a trata com a deferência que ela própria e apoiantes exigem. Ficará pois independente [etiqueta que vai bem com arquitectura no feminino]. Mulher de armas e armada com a arquitectura e a independência. Do lado de quem pode recolhe-se a arma que parecia abandonada. E mesmo com a dependência que o partido sugere, ou obriga, o arquitecto, namorado em bloco e acompanhante da zezinha por Lx, avança. Terá pois a capital, certamente, um número dois que colocará a arquitectura onde sempre esteve, no poder. Deste modo se revela o que muitas vezes fica [para mal de todos] na oposição aparente.
Devo acrescentar que vista daqui a escolha do arquitecto para a capital agrada ao dragão portuense mais que aos poderes da invicta. Não se esqueça do conflito de poderes que mexeu com o trabalho do arquitecto na cidade do Porto, propondo [projectando] e ajudando a fazer cidade. Quiseram, a miopia e a dona Laura, comercializar a cidade e [para quem não esqueceu as razões e o desvairo de então] hoje já se podem certificar do jogo de absurdos que alimentava. Entre malabaristas e balões lá foram consumindo as trocas e os favores, e de contas à moda do Porto nada.
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