janelões, janeletas, janelinhas, janelículas, janelos e janelórias, já não são o que eram: variantes em dimensão das aberturas praticadas em paredes, servindo para iluminar e arejar o interior dos edifícios, as vulgares janelas. Embora o dicionário conceda que, por extensão, a designação serve a qualquer abertura que se lhe assemelhe.
Nos tempos que correm a cidade parece ter ajustado os seus edifícios à variante figurativa: não gaste à doida, sem método! Não dissipe, ou seja, não deite dinheiro pela janela fora.
Esta é, porventura, a interpretação economicista da imagem que colhemos, e de que cada rua é testemunho.
Há contudo que prefira outras interpretações.
De outras áreas disciplinares se colhe a informação de que podemos estar à beira da extinção dos janeleiros e janeleiras. Sendo que enquanto aqueles seriam os que gostavam de estar sempre a praticar nessas aberturas, já estas o faziam com a premeditada finalidade que lhes valia o epíteto de namoradeiras. Para que servem então as referidas aberturas se as mudanças nos costumes já não lhes conferem utilidade alguma?
Para outros, ainda, são, na versão plural e popular, os olhos, aquelas aberturas onde parece que os outros nos deixam mergulhar até à essência do ser. Pura ilusão, ou não, já que por eles também cedemos à devassa própria. Vale a uns e outros a simulação e estratégia. E assim os olhos remetem e são acossados, tal como as namoradeiras que queriam estar sempre à janela. Revertendo o uso parece estarmos a assistir ao fechamento da alma, por simetria. E sem ela a cidade foi fechando os olhos.
Seja por um motivo ou pelo outro o que parece é que o Porto responde com a sua peculiar radicalidade, cuidando nada perder enquanto tudo se transforma. E iludindo a mudança enquanto pode.
1 comment:
Os olhos são as janelas da alma. Essas casas perderam a alma...
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