Confesso que esta coisa de que hoje é dia [oficial ou oficioso] me interessa muito [e] pouco. De facto reservo-lhe apenas um lugar muito residual na prateleira dos meus interesses, e apenas na categoria nichos de mercado nas suas variantes [ideológico-ideológico, ideológico-político e político-político]. Quanto ao nicho propriamente empresarial [com que os anteriores manifestamente se confundem] e ainda que lhe reconheça em muitos casos a hipocrisia, e a desfaçatez me aguce a critica e estabeleça a desconfiança, não causa tanto arrepio. As coisas são como são [e caberá à opção de cada um estimular-lhes a mudança].
Esmiuçando um pouco as razões da indiferença que voto ao dia [contrariamente ao que de mim exijo para todos os dias] salta logo à evidência a propaganda que afecta o discernimento. Argumento comum a diferentes serventias propõe um responsável por todos os malefícios e indica-se simultaneamente como a vítima de tão irresponsáveis comportamentos. Ficamos deste modo, pelo menos, como na história do Hyde e Jekill. Mas amiúde o conselho é mais paternalista e uns são Doctor Jekill outros Mister Hyde. Nós e ou outros. E acrescenta-se a este traço da realidade uma matriz para rematar o julgamento: o Homem [escolham maiúscula ou minúscula, a gosto de cada um], só pode ser, é O responsável. O que equivale a dizer que o modo como este altera o Mundo conduz à sua extinção. O que esconde [sob o modo] uma critica demolidora da tecnologia [da ciência enquanto tal e da sua aplicação ou aplicabilidade, implicitamente]. Daí o apelo a um regresso [a um impossível regresso não posso deixar de deixar, desde já, expresso].
Não me quero meter em disputas pós-modernas mas apenas reclamar o direito a tornar razoável uma certa indiferença. Afinal se o mundo fosse melhor sem o Homem não estaria aqui a usar este mesmo direito. Seria o absurdo no seu melhor. Somos sobreviventes porque nos tornamos tecnologicamente viáveis. E levamos esta matriz tão longe quanto nos for possível [é a nossa condição].
Por isto e muito mais que fica sempre à volta, sem expressão, mas impressivamente, prefiro a história na forma de Vatanen e da sua espiral de revolta a partir da publicidade a um spray purificador do ambiente, ou na versão emotiva, ensaiada por John Doerr [o assumido agente do capital de risco que aposta nas tecnologias ainda impossíveis].
A alternativa, ainda que instituída e repetida com cerimonial, ou gritada da margem que se quer instituir soa-me sempre a mais do mesmo. Decoração para um ambiente poluído. Este.
2 comments:
É, eu sei que é uma borboleta, mas quando olho, à primeira, vejo sempre um caranguejo. O nosso cérebro está cheio de ideias feitas.
Caranguejo por borboleta! De facto dá que pensar. Obrigado pela participação.
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